quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre o dândismo

Oscar Wilde, bichona sabia das coisas

Fruto da recém nascida burguesia, donos de linguagem refinada e apreciadores das artes, os dândis surgiram para distinguirem-se da vulgaridade ao seu redor usando o próprio ridículo para ridicularizar com o todo.

Trajados em calças estreitas, coletes justos e sapatos de bicos ultrafinos, os novos homens do século XIX se aproveitaram do surgimento das técnicas de manufaturação do algodão para definir um novo padrão de vestimenta masculina.

Mais adequados com a crescente urbanização, os novos trajes sepultaram, de uma só vez, as roupas mal cortadas e rudes dos camponeses, além das rendas, cetins e sedas, típicos dos aristocratas pré-Revolução Francesa.

Para Queila Ferraz, professora de história da indumentária da Faculdade Belas Artes, o dândismo pode ser considerado um dos primeiros estereótipos dissonantes do comportamento masculino totalitário.

"Os dândis são o que chamavam de snob - sem nobreza. Essa palavra era colocada na porta dos quarto dos alunos de Cambridge. Eles não tinham sobrenomes aristocráticos, porém, frequentavam a sociedade juntamente com poetas, músicos, artistas e se espelhavam na aparência destes. Assim, acabaram por criar um novo arquétipo pop", analisa a professora.

Combinando em proporções iguais o requinte e o exotismo, os dândis foram bastante associados (muitas vezes corretamente) ao homossexualismo, o que tornou o estilo ainda mais polêmico.

Talvez o maior exemplo do dândismo tenha aparecido na Irlanda, na figura do escritor Oscar Wilde. Dotado de senso de humor corrosivo, tendência ao paradoxo, neste caso, superioridade aristocrática, e vestuário espalhafatoso, Wilde se tornou ilustre pela maneira como retratou a sociedade britânica, além de traçar algumas das mais valiosas considerações literárias a respeito da juventude, das paixões e do amor. Sua obra mais conhecida é o O Retrato de Dorian Gray, onde narra a história de um jovem que não envelhece, enquanto uma pintura de seu rosto acumula o tratamento do tempo até se tornar disforme.

Cultura Pop, música e dândismo hoje

Jarvis Cocker, belos paletós de tweed
Apesar da banalização estética que o consumo em massa provocou durante o período pós-Segunda Guerra, e principalmente com o fim do socialismo, os anos 90 também tiveram seu ícone dândi.

Jarvis Cocker formou o Pulp ainda no começo dos 80, porém, somente despontou para a Inglaterra em 1994, com o lançamento do álbum His´n´Hers. Dono de uma indolência nerd, herança de Elvis Costello ostentada nos óculos fundo de garrafa e aros grossos, além dos paletós de tweed, Cocker mostrou uma visão contemporânea, ácida e divertida do british way of life.

Entre seus temas, Cocker escreveu sobre desejar alguém tanto a ponto de confundir a irmã pela pessoa (Babies), pessoas ricas tentando viver como pessoas comuns (Commom People) e promessas infantis de casamento não consolidadas (Disco 2000). Seus hits por diversas vezes ocuparam a lista dos dez mais na parada britânica.

Saltando para os anos 00´s, o new rock também teve seus representantes dândis. Brandon Flowers optou pelo sapato bico fino, colete e bigode para vestir sua personalidade nada convencional. Alex Kapranos não larga de sua calça estreita e de suas camisas exóticas e bem cortadas.

Para Queila, o fenômeno é atemporal e condizente com a moda hoje. "Acho completamente possível visualizar esse fenômeno nas ruas. Todos que criam uma elegância glam ou heavy, e até mesmo o look de modernos da MTV, podem ser considerados um pouco dândi, inclusive as mulheres". Se ela diz...

Kapranos e Flowers, dândis contemporâneos





Em 1987, os Engenheiros do Hawaii lançaram o disco A Revolta dos Dândis. Logo na primeira música, homônima ao álbum, Humberto Gessinger rimava: "Entre o rosto e o retrato, o real e o abstrato", uma referência ao clássico de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

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