quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"Vote no Caoio"


Zé do Bode, Bolota, Serginho Cabeção, Dora Barnabé. Não se espante caso você tenha deparado com nomes como estes durante o horário eleitoral gratuito. Eles são somente alguns dos candidatos a vereador na cidade de Londrina.

Diferente do velho esquema “nome e sobrenome de família nobre” de figurinhas carimbadas que preenchem os noticiários durante todo o pós-eleições, durante o período de campanhas abre-se oportunidade para pessoas comuns, populares, mas nem tão reconhecidas, terem seus dez segundos de fama. É a vez do leiteiro, do mecânico, do líder comunitário, pedreiro ou ambulante dividir segundo a segundo o mesmo espaço com advogados, médicos, empresários e políticos de carreira.

Com pouco dinheiro disponível no bolso para ser investido em publicidade e muita criatividade, os candidatos populares transformam elementos que em outros momentos poderiam parecer motivos de chacotas em bordões difíceis de serem esquecidos.

É o caso Vilson Machado, que utilizou a ferramenta que carrega como sobrenome em sua campanha. Machado aparece no horário eleitoral gratuito com um outro machado em mãos prometendo cortar o mal da corrupção pela raiz. Para ele, o recurso não foi uma estratégia de marketing, mas sim uma metáfora na luta contra as tramóias irregulares. “É um símbolo transformado em ferramenta que quer romper com as amarras do poder” profetiza o candidato.

Já para Maria Ferreira de Abreu, mais conhecida como Maria do Calçadão, o nome foi uma questão de adequação. Dona Maria, que trabalha há 42 anos no calçadão da avenida Paraná vendendo loterias, jogo do bicho e produtos cosméticos, conta que teve a idéia enquanto voltava para casa: “Ia pra casa imaginando como ia me chamar. No ônibus tive a idéia. É mais fácil de identificar”. Para Maria do Calçadão, que é deficiente física, as pessoas de baixa renda também são capazes de ocuparem cargos no legislativo e deviam se conscientizar disto: “Não é só porque não é estudado que não sabe das coisas, a melhor escola é a vida”, justifica ela.

Em ambos os casos acima, os candidatos exploraram um diferencial e lhe atribuíram um caráter benéfico temporariamente. Porém, para um outro candidato a história foi diferente.

Dono de um dos bordões mais reconhecidos e grudentos destas eleições, Vanderlei Neres de Santana, o Caoio se diz assim conhecido desde quando nasceu: “Minha mãe olhou pra mim, bateu na minha bunda e tava batizado”. Caoio é leiteiro, carroceiro, lenhador e o que mais aparecer. Morador, atualmente do jardim Santa Fé e do São Jorge, é conhecido em boa parte da periferia londrinense. E é de lá que ele tira seu apoio. Prova de sua popularidade foi constatada durante a entrevista para esta reportagem. Quando populares que passavam pela rua gritavam pelo seu apelido, ele respondia aos gritos: “Fica de olho, fica de olho! [Fique de olho, vote no Caoio]”, citando seu bordão. Caoio acredita que a população da periferia deveria ser representada pelo seu próprio povo: “Se usassem a cabeça diziam: ‘vamos eleger um do Santa Fé, um do União’, um cara que quando precisar ele não desfaz, que conhece os problemas da favela”.

Além dos candidatos que se tornam famosos, existem aqueles que já são famosos, ou pelo menos tem nome de famosos. Caso típico é o candidato Edson Arantes. Além do nome, Arantes também é negro como o Rei do futebol, o que lhe garante maior reconhecimento: “Me chamam de Pelé, de irmão do Pelé” Arantes acha importante o reconhecimento e tem consciência que isto pode ajudá-lo a angariar mais votos, tanto que incluiu no adesivo com seu nome uma bola de futebol.

Além de Pelé, disputam as eleições para vereador em Londrina os charas da senadora Heloisa Helena e o dos finados cantor Cazuza e do empresário Roberto Marinho. Completam a lista de candidatos com nomes peculiares ainda os candidatos Tião da Gramado, Missionária Lurdinha, Márcia do Pastel, Funfas, Poeira, Kiko Já, Bicudo da Sercomtel, Alzira do Povo, entre outros.

Se serão eleitos ou se possuem competência para desenvolverem a função de vereador, um tempo breve irá dizer. O que se pode afirmar é que pelo menos eles tornam mais divertido o entediante horário eleitoral.

*Jornal laboratório Último Clichê (Londrina, 2005)

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